Sinca Chambord V8 1959: O primeiro automóvel brasileiro com motor V8
O Simca Chambord V8 1959 é um veículo que possui uma história rica e fascinante, marcada por influências italianas, francesas e norte-americanas. Este carro de luxo tem origens que remontam à Fiat italiana e ao empresário ítalo-francês Henri-Théodore Pigozzi. Neste artigo, vamos explorar a trajetória do Simca, desde seus primeiros modelos na França até sua chegada ao Brasil e sua consagração como um dos carros mais cobiçados do país.
A Origem do Simca
A história do Simca teve início em 1935, quando os primeiros modelos da marca surgiram na França. Esses carros eram conhecidos como Simca-Fiat, pois eram baseados em modelos da Fiat italiana. O Simca-Fiat 6CV era uma versão do Fiat Balilla, enquanto o Simca-Fiat 11CV correspondia ao Fiat Ardita. Até mesmo o icônico Fiat Topolino foi produzido e vendido na França como Simca-Fiat 5CV a partir de 1936.
No entanto, foi somente em 1949 que a Simca lançou seu primeiro modelo com carroceria própria, o Huit Cabriolet. Esse carro foi derivado do Huit Coupé da pré-guerra e trouxe grande reconhecimento à marca francesa. A montagem do Huit Cabriolet era realizada pela Façel-Métallon, empresa que mais tarde ficaria famosa por produzir o Facel Vega, equipado com motor Chrysler V8.
Em 1951, a Simca lançou seu automóvel mais importante até então, o Aronde. Esse pequeno e moderno carro foi um grande sucesso de vendas e sua pronúncia medieval, “Aronde”, deu origem ao logotipo da Simca, a famosa andorinha estilizada. No entanto, mesmo com o sucesso do Aronde, a Simca enfrentava uma forte concorrência das marcas Peugeot, Renault e Citroën na França.
A Chegada do Simca ao Brasil
Foi nesse contexto de desafios e concorrência acirrada que o destino do Simca começou a mudar. Em 1954, Henri-Théodore Pigozzi decidiu que a Simca fabricaria automóveis com o glamour dos modelos americanos. Para concretizar essa ideia, ele adquiriu a Ford France, que já produzia o Ford Vedette, um modelo ultrapassado baseado nos veículos pré-guerra da Ford.
No entanto, a jogada não foi tão inteligente quanto Pigozzi esperava. A Ford France estava com dificuldades financeiras e o Vedette não era competitivo no mercado. Mesmo a Ford americana não acreditava no potencial desse carro, uma vez que seus modelos passaram por uma grande revolução estilística desde 1949.
Apesar dessas adversidades, a Simca “herdou” o Vedette da Ford e lançou uma versão simplificada com motor de quatro cilindros do Aronde, chamada de Ariane. No entanto, essa estratégia não foi suficiente para reverter a situação da Simca, que continuava sendo engolida pelos concorrentes franceses.
Foi então que, em 1956, o presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, fez uma oferta à Simca. Ele estava em busca de uma montadora estrangeira para investir no país e impulsionar a indústria automobilística brasileira. Pigozzi viu nessa proposta a oportunidade de expandir os negócios da Simca e aceitou o desafio.
A Simca no Brasil
A Simca brasileira, conhecida oficialmente como Sociedade Industrial de Motores, Caminhões e Automóveis, foi fundada em 5 de maio de 1958 em Belo Horizonte, Minas Gerais. No entanto, a fábrica foi montada em São Bernardo do Campo, São Paulo. Os primeiros Simcas fabricados no Brasil foram lançados em 1959, embora o maquinário para a produção só tenha chegado em 1960, após a Simca francesa parar de produzir o Vedette.
O lançamento oficial do Simca no Brasil ocorreu em 1959, na fábrica de São Bernardo do Campo. O modelo principal era o Simca Chambord, batizado em homenagem a um castelo francês. Os primeiros 1.217 carros desse ano eram identificados como Vedette no painel, com todas as inscrições em francês.
Em 1960, foi lançado o Simca Presidence, uma versão mais luxuosa do Chambord. Esse modelo era equipado com estofamento de couro, pastas para documentos no encosto do banco dianteiro, apoios de braços escamoteáveis nos bancos dianteiro e traseiro, um barzinho embutido com garrafa de uísque, copos e cigarreira, além de um rádio com dois alto-falantes. O motor do Presidence era mais potente, com 90 cv em comparação aos 84 cv do Chambord. Uma característica marcante desse modelo era o Kit Continental, que consistia em um pneu de estepe instalado fora do porta-malas, aumentando sua capacidade. A inscrição “Simca do Brasil” no para-choque traseiro diferenciava o Presidence das versões francesas.
Em 1961, o Simca passou por algumas modificações, como a adoção de inscrições em português no painel e a inclusão de um friso lateral contínuo, sem a curva central. Nesse ano, o motor também recebeu aprimoramentos, elevando a potência para 90 cv.
Em 1962, o Simca Chambord voltou a ter o friso lateral com a curva central e ganhou um novo emblema que marcava a série Três Andorinhas. O motor também recebeu melhorias internas, aumentando a potência para 92 cv. Nesse mesmo ano, foi lançado o Simca Rallye, equipado com um motor de 2.432 cm3, dois carburadores e escapamento duplo, alcançando 100 cv de potência. O Simca Presidence também recebeu essas melhorias.
Outra novidade de 1962 foi a perua Jangada, apresentada no Salão do Automóvel. Essa perua inovou a família Simca ao adotar as três marchas sincronizadas, que seriam incorporadas aos demais modelos no ano seguinte. A perua Jangada também contava com um elegante bagageiro no teto, permitindo ampliar a capacidade de bagagem em viagens e disponibilizar dois banquinhos escamoteáveis para crianças no porta-malas.
Em 1963, foi lançada uma versão simplificada do Simca, chamada de Alvorada. Esse modelo não possuía cromados, as calotas eram simples e muitos itens foram suprimidos do seu interior. No entanto, o Alvorada não teve grande aceitação no mercado, pois o Simca era conhecido por ser um carro de classe e luxo, o que não condizia com a simplicidade do Alvorada.
Os Últimos Modelos do Simca no Brasil
Em 1964, foi lançado o Simca Tufão, um carro que trouxe várias melhorias funcionais e estéticas. O teto do Tufão era mais alto, os vidros eram maiores e as lanternas traseiras foram redesenhadas. Na frente, o adorno do capô foi removido e a grade recebeu um novo emblema preto. O Simca Rallye Tufão também passou por algumas mudanças, substituindo as entradas de ar circulares por outras menores nas laterais do capô. O motor do Tufão recebeu um aumento na cilindrada, chegando a 4.414 cm3, e a potência aumentou para 100 cv. O Simca Rallye e o Presidence receberam as mesmas melhorias.
Em 1965, foi lançada a versão Tufão da perua Jangada, com ligeiras alterações na carroceria, novas lanternas traseiras e duas maçanetas na porta traseira. Nesse mesmo ano, a linha Simca recebeu a ignição transistorizada e foi reintroduzida uma versão simplificada, o Profissional. Essa versão era ainda mais despojada que o Alvorada, com itens suprimidos do seu interior. O Simca Profissional contava com financiamento oficial do governo.
Em 1966, a Simca lançou a nova linha EmiSul, que incluía o Chambord EmiSul, o Rallye Especial e o Presidence. Esses modelos contavam com o motor EmiSul, uma adaptação do antigo flathead com câmaras hemisféricas e válvulas no cabeçote, inspirado nos motores da Chrysler. Apesar de ter uma cilindrada menor, de 2.410 cm3, o motor EmiSul atingia 140 cv de potência.
No mesmo ano, foram lançados os novos modelos Regente e Esplanada. O Regente era uma versão simplificada, enquanto o Esplanada trazia um visual mais moderno, com faróis duplos e lanternas traseiras mais delicadas. A partir de 1967, os carros Simca passaram a ser identificados como fabricados pela Chrysler do Brasil, porém, ainda eram conhecidos como Simcas.
O ano de 1968 marcou o lançamento do Simca GTX, considerado por muitos como o Simca mais icônico de todos os tempos. Alguns dizem que esse modelo já pertencia à marca Chrysler, mas ainda carregava consigo a essência da Simca. O GTX era equipado com o motor EmiSul de 130 cv, bancos individuais com câmbio de quatro marchas no assoalho, volante esportivo Walrod, pneus radiais “cinturato” e pintura esportiva com faixas pretas. Os últimos GTX tiveram um motor com 140 cv e embreagem com acionamento hidráulico.
Conclusão
A história do Simca Chambord V8 1959 é uma verdadeira viagem no tempo. Desde suas origens na França até sua chegada e consagração no Brasil, esse carro de luxo deixou uma marca indelével na indústria automobilística. Com seu design elegante, desempenho potente e acabamento luxuoso, o Simca Chambord V8 1959 conquistou o coração dos brasileiros e se tornou um símbolo de status e sofisticação. Mesmo após décadas, esse veículo continua sendo admirado e lembrado com carinho pelos entusiastas de automóveis clássicos.
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Fotos: Pastore
Fonte: Wikipédia