Fiat 147: O Primeiro Carro a Álcool do Mundo
O Fiat 147, lançado em 1979, é um marco na história automobilística, sendo reconhecido como o primeiro carro a álcool produzido em série no mundo. Este modelo não apenas simboliza uma inovação significativa na indústria automotiva, mas também representa uma resposta direta à crise do petróleo que afetou o mundo na década de 1970. Vamos explorar em detalhes a criação, as características e o impacto do Fiat 147 na sociedade brasileira.
O Contexto da Crise do Petróleo
A década de 1970 foi marcada por uma crise energética global, especialmente devido ao aumento abrupto dos preços do petróleo. Em 1973, a OPEP, organização que reúne os principais países exportadores de petróleo, elevou o preço do barril em mais de 400%. Esse cenário levou muitos países, incluindo o Brasil, a buscar alternativas para reduzir a dependência do combustível fóssil.
A Resposta Brasileira
Diante dessa crise, o governo brasileiro lançou o Programa Nacional do Álcool (Pró-álcool) em 1975. O objetivo era estimular a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, promovendo seu uso como combustível alternativo. A iniciativa incluiu incentivos fiscais e empréstimos a juros baixos para os produtores de cana e montadoras de automóveis, criando um ambiente propício para a inovação.
O Papel da Fiat
A Fiat, que já havia se estabelecido no Brasil desde 1976, foi uma das montadoras que rapidamente se adaptaram a essa nova realidade. O desenvolvimento do Fiat 147 a álcool começou logo após o lançamento do modelo, com a apresentação de protótipos no Salão do Automóvel de 1976.
O Desenvolvimento do Fiat 147
A criação do Fiat 147 envolveu um processo complexo de adaptação tecnológica. A montadora optou pelo motor 1.3 8V Fiasa, que se mostrou mais eficiente na queima de álcool em comparação ao motor de 1.050 cm³. Essa escolha foi fundamental para o sucesso do modelo.
Desafios Técnicos
A utilização do etanol trouxe desafios únicos. O álcool possui um poder calorífico inferior ao da gasolina, o que requer adaptações no sistema de injeção e no motor. Além disso, a corrosividade do etanol exigiu a modificação de diversos componentes, como o tanque de combustível e as mangueiras.
- Modificações Necessárias:
- Revestimento do tanque com estanho em vez de chumbo.
- Aplicação de níquel químico nos componentes do motor para proteção contra corrosão.
Essas mudanças foram essenciais para garantir a durabilidade e a eficiência do veículo.
Soluções Inovadoras
Um dos principais problemas enfrentados pelos carros a álcool era a partida a frio. O Fiat 147 implementou um sistema que utilizava um tanque auxiliar para gasolina, permitindo que o motor fosse iniciado em temperaturas mais baixas. Esse sistema, embora manual, foi uma inovação que seria utilizada em muitos carros flex posteriores.
Características do Fiat 147
O Fiat 147 se destacou não apenas por seu motor, mas também por seu design e características operacionais. Com dimensões compactas, o modelo tinha 3,62 metros de comprimento, 1,54 metros de largura e um entre-eixos de 2,22 metros. Essa configuração permitiu uma cabine relativamente espaçosa para um carro de seu tamanho.
Design e Conforto
O interior do Fiat 147 era simples, refletindo a estética da época. O volante estava deslocado para a direita, e o carro não possuía encostos de cabeça nos bancos. O cinto de segurança era abdominal, um padrão comum nos veículos da época.
- Dimensões do Fiat 147:
- Comprimento: 3,62 m
- Largura: 1,54 m
- Entre-eixos: 2,22 m
Essas características, embora básicas, garantiam um nível de conforto adequado para os padrões da época.

Performance do Motor
O motor 1.3 a álcool do Fiat 147 apresentava uma taxa de compressão de 11,2:1, superior à versão a gasolina, que tinha 7,5:1. Isso resultou em um aumento modesto de potência, passando de 61 cv para 62 cv, com um torque que subiu de 9,9 mkgf para 11,5 mkgf.
- Desempenho:
- Potência: 62 cv
- Torque: 11,5 mkgf
- Tempo de 0 a 100 km/h: Aproximadamente 18 segundos
Esses números, embora modestos hoje, eram significativos na época, especialmente considerando o uso de álcool como combustível.
O Legado do Fiat 147
O impacto do Fiat 147 vai além de suas especificações técnicas. Ele representa um marco na história do automobilismo brasileiro e mundial, sendo um precursor dos veículos flex que dominam o mercado atualmente.
Popularidade e Aceitação
Durante a década de 1980, o interesse por carros a álcool cresceu significativamente. O Fiat 147 foi um dos modelos mais vendidos, contribuindo para que 70,7% dos veículos comercializados no Brasil naquela época fossem movidos a álcool.
Desafios e Declínio
No entanto, a trajetória do álcool como combustível sofreu revezes. Em 1989, o aumento do preço do açúcar no mercado internacional levou os usineiros a priorizar a produção de açúcar em detrimento do etanol, resultando em desabastecimento.
A Evolução do Combustível
A partir da década de 1990, a produção de carros a álcool começou a declinar, com a gasolina se tornando uma opção mais viável devido à sua disponibilidade e preço. No entanto, o etanol voltou a ganhar destaque em 2003, com a introdução do VW Gol flex, que permitia ao motorista escolher entre gasolina e álcool.
O Retorno do Etanol
O sucesso do Gol flex reacendeu o interesse pelo etanol, levando a Fiat a explorar novas tecnologias para otimizar o uso desse combustível. A empresa lançou projetos inovadores, como o motor E4, que visa queimar apenas álcool com eficiência semelhante aos motores a gasolina.
Experiência de Condução
Dirigir um Fiat 147 é uma experiência única, que remete às origens do automóvel brasileiro. A simplicidade do design e a falta de assistências modernas proporcionam uma sensação de liberdade que muitos motoristas sentem falta nos carros contemporâneos.
Sensações ao Volante
Os motoristas que tiveram a oportunidade de dirigir o Fiat 147 frequentemente mencionam a leveza da direção e a estabilidade proporcionada pela suspensão independente nas quatro rodas. A falta de assistência nos freios, embora assustadora para alguns, é parte do charme do veículo.
Comparação com Veículos Modernos
Embora o Fiat 147 tenha suas limitações, muitos motoristas apreciam a suavidade do motor e a agilidade do carro. A sensação de conexão com a estrada é uma característica que se perdeu em muitos dos veículos modernos.
O Futuro do Etanol
Com a crescente preocupação ambiental e a busca por fontes de energia renováveis, o etanol está se tornando um foco de interesse novamente. A Fiat, junto com outras montadoras, está investindo em tecnologias que buscam melhorar a eficiência do uso do etanol em veículos.
Inovações Futuras
A pesquisa e o desenvolvimento de motores que utilizam exclusivamente etanol são uma prioridade. A expectativa é que novas tecnologias possam fazer do etanol uma alternativa viável e sustentável, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
O Papel do Consumidor
Os consumidores também desempenham um papel crucial nesse processo. A escolha por veículos que utilizam etanol pode influenciar a produção e o desenvolvimento de novas tecnologias, tornando o combustível vegetal uma opção cada vez mais popular.
Conclusão
O Fiat 147 não é apenas um carro; é um símbolo de inovação e adaptação em tempos de crise. Sua história reflete a capacidade do Brasil de se reinventar e buscar soluções sustentáveis. Com o renascimento do interesse pelo etanol, o legado do Fiat 147 continua a influenciar a indústria automotiva, mostrando que a busca por alternativas energéticas é um caminho que ainda precisa ser explorado.
Este artigo foi elaborado com o objetivo de informar e engajar os leitores sobre a importância histórica e cultural do Fiat 147, o primeiro carro a álcool do mundo. Através de sua trajetória, podemos entender melhor os desafios e as inovações que moldaram a indústria automobilística brasileira.
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Fotos: Freepik | Divulgação Fiat
Fonte: Quatro Rodas